Overview João Miguel Bravim

11/03/15

TYPOS - Rolinho Bros

Crail Trucks 25 Anos
Saindo da Estação da Sé do metrô, fui em direção à Rua do Carmo para encontrar Tony “Pixo Tosco” e Felipe “Risada”. Eles formam a dupla “Rolinho Bros” e assinam os eixos de Fabio Cristiano e Rafael Gomes. Chegando ao pequeno prédio de três andares, percebi que era um local só de ateliês e suas obras. O primeiro andar tinha uma galeria, além dos espaços dos artistas. No terceiro, o Rolinho Bros guardava seus tesouros e sua bagunça artística. Fui recebido ao som de Beastie Boys e o papo começou com o tema TYPOS:

Qual a relação que as tipografias de rua têm com o skate na visão de vocês?

Risada: A relação que a pixação tem com o skate é a de marginalidade, de ser tirado da sociedade. O skate é agressivo para os outros, seja de barulho, de quebrar o piso de algum lugar... Por mais que esteja na moda, englobado, ainda é problema e o grafite e a pixação também! As pessoas preferem muito mais um desenho colorido do que uma letra branco e preta.

Pixo Tosco: A grande semelhança, para mim, é o público jovem. As pessoas que andam de skate ou as que vão para a pixação é muito a molecada. Tudo bem que o pessoal fica mais velho e continua andando e pixando, mas você começa como jovem, isso é fatal. As duas coisas são portas de entrada ou para o esporte ou para a arte. Isso sem falar de quem faz as duas coisas ao mesmo tempo.

Esses dois grupos olham para a cidade de uma outra maneira. O skatista olha para a cidade tentando achar lugares onde ele possa fazer a manobra e o pixador quer saber onde ele vai encaixar o nome dele, sabe? Tem essa coisa também de olhar, ver o que o outro faz. Se você está passando no busão e vê outro andando de skate, fica reparando o que ele está fazendo e na pixação é a mesma coisa, você fica reparando o que mudou na cidade, quem pintou ali, o que foi apagado, você fica bastante de olho, acompanhando. São duas tribos bem parecidas.

As artes urbanas estão mais aceitas hoje em dia ou ainda é bem marginal?

Pixo Tosco: É marginal porque a imensa maioria faz (as artes) na rua e é malvisto pela polícia e pelos moradores... Tem uma aceitação à medida em que os artistas gostam e usam como referência, aí não tem como você não ver isso em outros lugares. Já comecei a ver logotipo de grife em outdoors, de relógios, com letras de pixo! Já vi surfwear, streetwear, mas você sente que as paradas estão cada vez mais sendo influenciadas.

Vi grafiteiros famosos elogiarem o pixo. Isso quebra barreiras, as pessoas começam a olhar com outros olhos. Já cansei de dar palestras falando disso, para as pessoas pararem com o preconceito e prestarem atenção na qualidade de algumas letras, na originalidade. Parar de pensar se o suporte estraga a parede e começar a ver a arte do cara, a originalidade, isso que é importante.

Risada: A pixação é uma arte performática, o cara sobe em um lugar, acontece a noite... Tem todo um rolê, né?
Pixo Tosco: Os caras usam extensores, escada, escaladas...
Risada: Os gringos vêm pra cá para estudar isso, fazer documentário e livro. A gente no Brasil já não tem tanta aceitação. Tem agora com o pixo entrando em ambientes fashion, de bastante luxo, mesmo.

Então muita gente tem buscado referência no pixo.

Pixo Tosco: A coisa só aumenta. Do mesmo modo que o skate está em qualquer propaganda, seja do Kisuco ou da Havaianas; o cara mete o skate lá e atrai o público jovem. Do mesmo modo que o skate foi absorvido há muito tempo como um elemento visual para representar a juventude, o grafite e a pixação também. O grafite já foi! A pixação está na fila. A sociedade de consumo engole tudo e a arte também, ela se apropria disso direto.

Mas isso é bom ou ruim? Tira um pouco da alma da parada?

Pixo Tosco: Não, porque é a reinterpretação, não dá para você não se influenciar pela cidade em que você está.

Risada: O artista tem que sobreviver, se alimentar, entendeu? Ele começa do nada, como esporte, lazer e, à medida em que ele vai praticando e aquilo é a vida dele, vão rolar trabalhos. Tipo a Casas Bahia, Boticário, Vivo, Tim... Mas a essência, isso você tem que estar sempre em alerta, para não se vender, sempre saber qual é o pé do projeto.

Pixo Tosco: É, para você não fazer um pastiche. Fazer seu trampo mesmo, te chamaram para fazer sua arte, faz sério, com a sua cara, não tenta clonar uma outra coisa que você não faz, aí você se perde. Mas se você fizer algo que tem a ver com seu trampo... Tipo o Espeto fez para a Copa, para a Coca-Cola, era um trampo totalmente autoral. Eles pediram para ele fazer o trabalho dele mesmo, do jeito dele, estilo dele.

Mas o mais legal ainda continua ser fazer os trampos mais vandal?

Pixo Tosco: Sim! É onde você realmente experimenta livremente e em quantidade.

Risada: E também tem a sensação do proibido, da adrenalina...

Pixo Tosco: E tomar uns enquadros!

Risada: Essas coisas não tem dinheiro que paga! Às vezes você vai fazer um painel autorizado, fica lá o dia inteiro, saindo do trabalho para a casa, no caminho, você faz um ilegal, você precisa disso!

Como é a relação de vocês com a autoridade?

Risada: Eu tenho um bloqueio telepático com as autoridades. Eu emano uma vibração na minha mente e quase sempre consigo bloqueá-los, passar despercebido. Mas, às vezes, a casa cai mesmo!

Pixo Tosco: Muitas vezes você toma um enquadro e escapa, conversa com o cara e já era.

Risada: Geralmente a gente faz de dia, faz umas paradas mais figurativas...

Pixo Tosco: Isso tudo ajuda! Local público também, que não tem um dono latindo na orelha do policial ajuda muito! Fazer as artes em um lugar que está sujo ou é perigoso ou abandonado... Não resolve a vida, se o policial quiser levar, leva! Mas o negócio é fazer rápido para ir embora logo.

Risada: O negócio também é estudar o local, achar um pico que você curta e pensar “Po,vou vir aqui amanhã”, aí passa no dia seguinte e flagra de novo, vê qual que é e no outro dia faz!

E a relação de sentimento que o skatista tem com andar de skate e o pixador tem com ir fazer a sessão? Vocês acham que tem o mesmo feeling?

Pixo Tosco: Sim! Tem essa coisa de grupo. A gente anda de bike, bota as tintas na mochila e vai andando. As vezes você sabe até pra onde vai, mas no meio do caminho acha outra coisa e pára ali e faz o trabalho lá mesmo. Aí passa uns amigos na rua e quer fazer também, pega emprestado um rolinho, uma tinta e sai pintando. No skate é a mesma coisa, o cara não precisa estar de skate para sair brincando junto.

Qual a relação que o pixo tem com os centros urbanos?

Risada: Se eu tivesse nascido na Amazonia, por exemplo, ou em algum local com mais natureza, acho que eu seria artista mas teria outro ramo, fazendo artesanato ou fazendo canoa, esculturas no tronco, cerâmica... Mas como nasci em São Paulo, já sou da arte de rua antes mesmo de fazê-la. Quando eu era criança já acompanhava e pirava nisso tudo. Foi só o tempo para começar a ser mais. São Paulo, cara. É a melhor coisa do mundo para o pixo é São Paulo.

Pixo Tosco: Eu nasci em Santos e vim para São Paulo porque eu quis e fiquei porque quis, também. Já moro mais tempo em São Paulo do que morei em Santos. A cidade é fascinante, muito viva. As paredes mudam toda hora, se você acompanhar o grafite e a pixação, é um cinema, cada semana muda. Você olha um local que ninguém fez nada e no outro dia um já chegou. Deu mais um dia, chegaram três! E dali a um mês alguém chega e encaixa mais um!

Como vocês veem a escrita de rua estar inserida em um conceito mais comercial, como no caso da série Typos?

Pixo Tosco: Eu vi com ótimos olhos! Porque vocês pediram justamente uma coisa que a gente faz, capricha pra caralho, mas as pessoas não prestam tanta atenção assim. A figura do rolinho, da carranca, do dragão, elas chamam muito a atenção e a tipografia, que voltou agora com a parada do Rolinho Bros, está nas camisetas, na rua, encaixada nos carros. Dá um puta trabalho fazer as letras e foi legal a Crail ter pedido isso!

Foi a primeira vez que a gente trampou junto em um freelance no computador, sem ser em uma coisa grande, foi eu e o Felipe sentando juntos para criar, conversamos bastante. Ficávamos com o lápis e o computador confabulando e criamos esses logos.

E de fato criaram logos incríveis para série. Depois, fiquei olhando o ateliê deles e cada detalhe tinha história para contar. Era um lugar com alma de tinta. Fui embora olhando pro alto para ver se os via nas paredes da cidade.

Vi, várias vezes.


Abaixo algumas fotos do ateliê dos Rolinho Bros:


Parede de tags



Rolinho Bros em sua casa



Bagunça Artística




Confira a série TYPOS no hotsite http://crail.com.br/typos/

TEXTOS POR Crail Trucks

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